26 novembro, 2006

Para além do 11 de Setembro

Esqueça o 11 de Setembro. É verdade que este é um tema muito debatido hoje em dia. Basta olhar para as páginas dos jornais e para as televisões. No entanto, enquanto o debatemos, um outro acontecimento extremamente importante tem passado mais ou menos ignorado - o enorme crescimento das chamadas economias emergentes (China, Índia, Rússia, Brasil, etc). O ensaio “Os Novos Titãs” de Pam Woodall (The Economist, 16 de Setembro de 2006) aborda este acontecimento e analisa as suas consequências políticas, económicas e ambientais.

A consequência com mais peso a nível internacional está relacionada com a distribuição do poder político. Quase ninguém se lembra hoje em dia mas, até ao início do séc. XIX, as duas maiores economias mundiais eram a China e a Índia. Mas estes dois países não quiseram ou não tiveram condições para acompanhar a globalização que se seguiu à Revolução Industrial. Assim, é há apenas 150 anos que os países a que actualmente chamamos países ricos se tornaram verdadeiras potências mundiais. E é por isso que esses países ricos detêm hoje grande parte do poder a nível mundial em grupos e organizações mundiais como o G8, a OCDE, o FMI, ou o Banco Mundial. É aqui que grande parte das decisões mundiais relativas a assuntos realmente importantes são tomadas. Nos últimos 15 anos, países como a China e a Índia começaram a crescer brutalmente e a integrar-se cada vez mais na política e economia internacional, o que significa que começam a ganhar dimensão e poder para influenciar as organizações internacionais, governos e empresas. O grande problema é que este regresso da China e da Índia à economia e política internacional já está a ter consequências ao nível da distribuição de poder. Vejamos o caso dos E.U.A.. Há muitos anos que este país é a maior potência económica mundial e, por isso, detentor de muito poder. Como é que Washington e os países europeus reagirão a esta nova situação? Como é que podem os governantes destes países tomar decisões sobre questões económicas e ambientais sem ter em conta a China e a Índia? E, pergunto eu, de que forma será a minha geração nos Açores afectada por esta distribuição de poder?

Ao abrirem os seus mercados e ao apostarem na exportação, economias emergentes como a China e a Índia contribuíram para aumentar a concorrência a nível mundial quer em relação aos salários, quer em relação aos bens e serviços produzidos. O facto dos salários nas economias emergentes serem baixos levou a que na maioria dos países desenvolvidos os salários baixassem ou se mantivessem estáveis. Paralelamente, o investimento na educação já começa a dar os seus frutos na Ásia. Assim, os trabalhadores destes países começam a ser capazes de produzir bens tecnologicamente mais avançados do que os produzidos anteriormente, o que aumenta a concorrência internacional. Esta concorrência diminui os preços dos bens mas também diminui os salários de muita gente nos países ricos. Tudo isto tem levado a uma maior desigualdade social, já que a maior parte dos benefícios da globalização estão a ser distribuídos pelas empresas e pelos seus accionistas. No entanto, é preciso não esquecer que foram essencialmente estes dois aspectos (abertura dos mercados e investimento na educação) que fizeram com que estas economias emergentes se desenvolvessem e que muita gente nesses países tenha passado a viver muito melhor. Tendo em conta tudo isto, é preciso que os países ricos saibam aproveitar o aumento da concorrência internacional - que acarreta mais produtividade, mais rendimentos, preços mais baixos e maior variedade de produtos - para assegurarem um crescente desenvolvimento.

A terceira consequência do desenvolvimento das economias emergentes está relacionada com o ambiente e com a procura de recursos naturais. Com o seu desenvolvimento surge um melhor nível de vida, um nível de vida que exige mais matérias-primas e energia. Segundo Pam Woodall, isto significa que o aumento dos preços do petróleo está, em parte, associado ao aumento da procura por parte destes países. Para complicar as coisas, o aumento do número de unidades industriais dará origem a novos problemas ambientais. Prevê-se, por exemplo, que nos próximos 10 anos a China e a Índia dupliquem as suas emissões de dióxido de carbono.

A verdade é que não é por estarmos no extremo ocidental da Europa que iremos deixar de sentir todos estes efeitos. Como Thomas Friedman, colunista do New York Times, chama a atenção, o mundo da minha geração é bem mais plano do ponto de vista económico do que o da geração dos meus pais. É neste mundo mais plano que, de uma forma ou de outra, todos nós seremos afectados por estes acontecimentos. É por isso mesmo que devemos prestar muito mais atenção ao que se está a passar a este nível. Só assim nos poderemos adaptar.
Constança V. Santos

09 novembro, 2006

Poluição marítima… gerações envenenadas

(…) Desde o prosaico detergente doméstico aos esgotos das indústrias, tudo tem vindo a ser despejado para os oceanos, rios, lagos e estuários. Os peritos marinhos defendem que todos os novos compostos químicos são letais até prova em contrário, mas ignoramos o aviso. Até que um dia descobrimos que envenenámos gerações, como o mercúrio de Minamata, no Japão. Estima-se que morram diariamente 25 000 pessoas por beberem água contaminada, mais de mil por cada hora que passa!
O tratamento dos esgotos começou recentemente a ser tido como uma medida urgente, mas o facto é que já introduzimos, e continuamos a introduzir, autênticos venenos na cadeia alimentar. É por isso que as baleias belugas são tratadas como lixos tóxicos no Canadá, quando morrem.
Embora as costas, junto aos aglomerados urbanos, sofram a maior carga de poluição, a verdade é que o mar alto tem os seus próprios problemas. Os acidentes com transporte marítimo são responsáveis por 10 por cento da poluição dos oceanos, que acaba por ir dar também à costa arrastada pelas correntes. O petróleo é o ‘inimigo número um’, embora as ameaças para a vida marinha e terrestre sejam intermináveis. (…)

Carla Gomes,
www.quercus.pt, Fevereiro, 2002 (adaptado)”


É verdade. Somos constantemente advertidos para este facto, mas parece que “ignoramos o aviso”. Muitas pessoas podem simplesmente pensar que deitar um mero detergente doméstico num rio é apenas uma gota de água no oceano. Se multiplicarmos este acto pelas milhares de pessoas que o fazem e adicionarmos tantos outros “crimes” deste género, não teremos apenas uma gota mas sim metade do oceano, se não mais. Como refere o texto, estes produtos tóxicos são-nos devolvidos directamente ao nosso estômago através do peixe que envenenámos e que agora comemos.
Seria menos mau se o nosso único pecado a nível ambiental fosse só este. Mas não é. Todos os dias milhares de pessoas gastam litros de água desnecessariamente; andam em carros que deitam fumo pelo escape; atiram plásticos, vidros, beatas ao chão, materiais que levam centenas de anos para se degradarem; etc. Estes são exemplos simples, mas foi por isso que os escolhi. Até nos simples gestos do dia-a-dia não sabemos rentabilizar os recursos existentes e fazemos de tudo para que se esgotem. Pequenos gestos como meter uma garrafa no lixo em vez de a atirar ao mar ou ao chão, ajudarão a tornar o nosso mundo menos poluído. Não por ser uma garrafa, um plástico ou um papel, mas pela consciencialização. Isto é, é nas novas gerações que surgem novas pessoas que irão trabalhar em indústrias e fábricas (escolhi estes exemplos pois são unidades muito poluidoras). Se todos os pais ensinarem os seus filhos a não deitar um papel no chão, isto torna-se norma. Assim, quando chegarem aos seus postos de trabalho nas fábricas, a tendência será para agirem como foram ensinados: a não poluir.
É por isso que acho que o combate à poluição poderá, em parte, ser conseguido através de pequenos bons hábitos. E é porque o mundo está em perigo que peço que pensem duas vezes antes de meterem um papel ao chão.
Constança Valadão Santos

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